segunda-feira, maio 16, 2011

Tempestade

A tempestade veio e ele estava perfeitamente preparado para ela. De modo que assim que todo o inferno passou, abriu a porta e pode orgulhoso confirmar que toda a devastação não atingiu uma só telha da casa. Nem mesmo um arranhão na pintura de fora. Feliz, voltou para dentro, pois não precisava agora empregar nenhuma energia para reconstruir nada. Tudo permaneceu no lugar. Inclusive o quadro do seu bisavô, que pendia no corredor da entrada. Parou alguns minutos olhando a relíquia de família, mas olhou tanto que não pode deixar de pensar: é horroroso. Nunca prestou muita atenção naquele lugar de passagem. Foi passando por toda a casa e percebeu outras coisas que não gostava. Quadros, cinzeiros, móveis, tapetes. Entendeu que teve um imenso trabalho para salvar tudo, mas que haviam coisas que não precisavam ser salvas. Ou mereciam. Olhou pela janela e viu outros reconstruindo belas casas que se tornariam ainda melhores do que eram. Então removeu todas as proteções que havia instalado. E sentou no banco em frente a casa. Esperando a próxima tempestade. Para dessa vez deixá-la agir. Pois agora ele pensa que não deve desviar o caminho da tempestade. Nem impedí-la de cumprir seu papel.

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